domingo, 2 de agosto de 2015

I wanna be...vira-lata*

Existe uma coisa curiosa em nós, brasileir_s, e tem diferentes alcunhas. Complexo de inferioridade, complexo de vira-latas... Eu quase poderia apostar que tod_ brasiler_, pelo menos uma vez na vida, já se viu nessa situação, seja ouvindo, seja reproduzindo esse discurso. Pois é, Nelson, ser ou não ser vira-latas, eis ainda a nossa questão.

Ironicamente, Nelson Rodrigues escreveu a esse respeito quando observou a reação d_s brasileir_s frente à derrota por 2x1 contra o Uruguai, em casa, algumas boas décadas atrás. Fichinha, depois do ainda recente 7x1, hoje eternizado, também sofrido em casa. Embora eu seja menos patriota e menos fã de futebol que ele, e creio que o futebol é outra coisa nos tempos atuais, não é difícil discordar de uma coisa: também acho, Nelson, que temos dons em excesso, mas, tantos anos depois, o nosso complexo de vira-latas ainda nos impede de desenvolvê-los. E ainda é voluntário.

Eu completo: nosso complexo de vira-latas é diretamente proporcional a nossa falta de humildade. E explico. A verdade é que, quanto mais bradamos a nossa inferioridade, mais arrogantes somos perante nós, brasileir_s, e perante o mundo. Eu sinto vergonha. Vergonha porque muitas vezes eu mesma reproduzi esse tipo de discurso. Vergonha porque nos envergonhamos do que somos, quando essa nossa vergonha é que devia nos envergonhar. Vergonha porque precisei ir pra gringa pra ver que lá eles dão muito mais valor para alguns dos nossos bens culturais do que nós mesm_s.

Um exemplo disso são as inúmeras vezes que conheci gring_s que praticassem capoeira e grupos de capoeira que fazem muito sucesso fora, conquanto nós passemos batido quando algum grupo se apresenta nas ruas de algum centro. Quantos e quantos artistas brasileir_s não são primeiro reconhecidos lá, para depois serem aqui? Isso é reflexo em todas as partes. Meus amig_s do mundo da moda, por exemplo, sempre lamentam o fato de o Brasil não criar tendências, apenas importar, e que, portanto, a nossa filha única seja beach wear.

Pagamos caro por importação. Pagamos mesmo. Pagamos o preço de não criar, de não dar espaço para os nossos talentos. As únicas criações que não cansamos de reproduzir são o “tudo aqui é mais caro” e o “nada aqui funciona”. Aí tiramos férias, vamos pra gringolândia, e louvamos os festivais de música a céu aberto, em praça pública. Mas se isso acontece em São Paulo e se chama Virada Cultural, aí eu tenho medo, aí não me misturo.

Parabéns a nós, que só fazemos culpar a classe política (NOTA: por classe política se entende governantes, eleitos ou não) do nosso país e insistimos em não aceitar que eles nada mais são do que o nosso espelho. Literalmente, os nossos representantes. Parabéns a nós, que queremos que as coisas mudem, mas sem mudar nossas posições. Ou que elas mudem, para que tudo permaneça igual. Ou que tudo continue igual, para bradarmos a 7 ventos o quanto estávamos certos a respeito de pelo menos uma coisa, a nossa inferioridade. E, claro, para mostrar o quanto somos diferentes do resto d­­_s brasileir_s, que, na verdade, somos tod_s nós.

Não, patriotismo não é comigo. O patriota anda de mãos dadas com o idiota, em qualquer país. A sociedade deveria ser entendida como composta por pessoas, mais que por um Estado-nação. Portanto, acredito que temos muito a aprender, como seres humanos, com qualquer ser humano. Viajar e conhecer outras culturas é incrível por si só, como também é uma importante ferramenta para o auto-conhecimento cultural. Minha crítica aqui tem um ponto específico.


Peço licença pelas palavras a seguir e recomendo aos que condenam a liberdade de expressão, no seu sentido mais literal, que parem por aqui. Fica meu apelo àqueles que preferem gozar com o pau das grandes potências: façam suas malas e se mudem para esses países, sem ganir se os chutarem por serem os imigrantes vira-latas. Deixem o Brasil pra quem quer cuidar dele, pois, faço minhas as palavras de Tom Jobim, isso aqui não é pra principiantes.

*Eu quero ser...vira-lata

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