Existe
uma coisa curiosa em nós, brasileir_s, e tem diferentes alcunhas. Complexo de
inferioridade, complexo de vira-latas... Eu quase poderia apostar que tod_
brasiler_, pelo menos uma vez na vida, já se viu nessa situação, seja ouvindo,
seja reproduzindo esse discurso. Pois é, Nelson, ser ou não ser vira-latas, eis
ainda a nossa questão.
Ironicamente,
Nelson Rodrigues escreveu a esse respeito quando observou a reação d_s
brasileir_s frente à derrota por 2x1 contra o Uruguai, em casa, algumas boas
décadas atrás. Fichinha, depois do ainda recente 7x1, hoje eternizado, também
sofrido em casa. Embora eu seja menos patriota e menos fã de futebol que ele, e
creio que o futebol é outra coisa nos tempos atuais, não é difícil discordar de
uma coisa: também acho, Nelson, que temos dons em excesso, mas, tantos anos depois,
o nosso complexo de vira-latas ainda nos impede de desenvolvê-los. E ainda é
voluntário.
Eu completo: nosso complexo de vira-latas é diretamente proporcional a nossa
falta de humildade. E explico. A verdade é que, quanto mais bradamos a nossa
inferioridade, mais arrogantes somos perante nós, brasileir_s, e perante o
mundo. Eu sinto vergonha. Vergonha porque muitas vezes eu mesma reproduzi esse tipo
de discurso. Vergonha porque nos envergonhamos do que somos, quando essa nossa
vergonha é que devia nos envergonhar. Vergonha porque precisei ir pra gringa
pra ver que lá eles dão muito mais valor para alguns dos nossos bens culturais
do que nós mesm_s.
Um
exemplo disso são as inúmeras vezes que conheci gring_s que praticassem
capoeira e grupos de capoeira que fazem muito sucesso fora, conquanto nós
passemos batido quando algum grupo se apresenta nas ruas de algum centro.
Quantos e quantos artistas brasileir_s não são primeiro reconhecidos lá, para
depois serem aqui? Isso é reflexo em todas as partes. Meus amig_s do mundo da
moda, por exemplo, sempre lamentam o fato de o Brasil não criar tendências,
apenas importar, e que, portanto, a nossa filha única seja beach wear.
Pagamos
caro por importação. Pagamos mesmo. Pagamos o preço de não criar, de não dar
espaço para os nossos talentos. As únicas criações que não cansamos de
reproduzir são o “tudo aqui é mais caro” e o “nada aqui funciona”. Aí tiramos férias,
vamos pra gringolândia, e louvamos os festivais de música a céu aberto, em
praça pública. Mas se isso acontece em São Paulo e se chama Virada Cultural, aí
eu tenho medo, aí não me misturo.
Parabéns
a nós, que só fazemos culpar a classe política (NOTA: por classe política se entende governantes, eleitos ou não) do nosso
país e insistimos em não aceitar que eles nada mais são do que o nosso espelho. Literalmente, os nossos representantes. Parabéns a nós, que queremos que as coisas mudem, mas
sem mudar nossas posições. Ou que elas mudem, para que tudo permaneça igual. Ou
que tudo continue igual, para bradarmos a 7 ventos o quanto estávamos certos a
respeito de pelo menos uma coisa, a nossa inferioridade. E, claro, para mostrar
o quanto somos diferentes do resto d_s
brasileir_s, que, na verdade, somos tod_s nós.
Não,
patriotismo não é comigo. O patriota anda de mãos dadas com o idiota, em
qualquer país. A sociedade deveria ser entendida como composta por pessoas,
mais que por um Estado-nação. Portanto, acredito que temos muito a aprender,
como seres humanos, com qualquer ser humano. Viajar e conhecer outras culturas
é incrível por si só, como também é uma importante ferramenta para o
auto-conhecimento cultural. Minha crítica aqui tem um ponto específico.
Peço
licença pelas palavras a seguir e recomendo aos que condenam a liberdade de
expressão, no seu sentido mais literal, que parem por aqui. Fica meu apelo
àqueles que preferem gozar com o pau das grandes potências: façam suas malas e
se mudem para esses países, sem ganir se os chutarem por serem os imigrantes
vira-latas. Deixem o Brasil pra quem quer cuidar dele, pois, faço minhas as palavras de Tom Jobim, isso aqui não é pra principiantes.
*Eu quero ser...vira-lata
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