Pessoas
envolvidas com qualquer expressão artística ou literária têm a minha admiração.
Não é fácil transmitir a complexidade humana em palavras, melodias, encenações
etc.
A
arte tem esse poder e que bom que ela exista, porque, de fato, a vida não basta.
E, como eu disse recentemente, viver custa caro. Acho que estamos pagando em
dólar.
Fato
é que a vida é uma coisinha meio esquizofrênica e, a todo momento, estamos
tentando entende-la, mesmo sabendo, conscientemente, que nunca vamos conseguir. E
nessas tentativas vãs, é sempre bom quando se encontra um filme, uma poesia ou
uma música que pareçam traduzir o que sentimos. É verdade que isso nos gera um
falso conforto, mas ao menos sabemos que aquela loucura toda faz sentido pra
alguém e, portanto, não estamos sozinhos. Amém.
Então,
car_s, me deparei com Birdman. Pois é, muitos reclamaram desse filme, inclusive
eu, em alguns momentos, nem tanto por ter gostado ou não, mas, sobretudo, porque
preferia que o Grande Hotel Budapeste tivesse levado o Oscar.
Pois
bem, a meu ver, Birdman tem algo de brilhante. E eu sei que, provavelmente,
outros cumpririam com maior primor a sua função. Mas sua desconexão e um
roteiro ~aparentemente~ nonsense me agradam. Talvez porque a vida, além de não
bastar e ser cara, ainda por cima não faz o menor sentido.
Talvez
porque, como Birdman, todos tenhamos nosso auge. A vida é uma roda-gigante, tá
certo, metáfora mais batida e clichê, mas o topo do mundo é atraente. E quanto
mais alto, maior a queda. Simplesmente perder o auge implica igualmente perder
o rumo.
Como
para Birdman, a vida, para _s mais ansios_s, parece uma sequência quase sem
cortes em que, as vezes, uma-sucessão-imensa-de-acontecimentos-se-passa-em-um-curto-espaço-de-tempo-sem-te-dar-um-intervalo-pra-absorver-todas-as-informações.
Ainda
por cima, brigamos o tempo todo com o nosso próprio Birdman, interior e
irrequieto, um turbilhão de pensamentos, sentimentos e sensações que gritam
dentro de você, mas só você consegue ouvir.
Birdman
morreu. Mas continuou vivo. E viveu quando todos o pensaram morto. Porque, como
já diria Heráclito, vivemos de morte e morremos de vida.
Quando
vi Birdman pela primeira vez, entendi como uma metáfora à prepotência humana. Em certa
medida, ainda continuo achando isso, mesmo porque, ninguém escapa à prepotência,
seja ela como for, em algum momento da vida. Talvez a prepotência de achar que
temos o controle de tudo, de esquecer que a vida é cíclica; a prepotência de
saber que tivemos a felicidade e sabíamos, e nos iludimos achando que nunca
iríamos perdê-la.
Às
vezes, é preciso simplesmente não entender. É preciso simplesmente sentir. É
preciso, como Birdman, escapar de si mesmo, antes que se torne seu próprio
prisioneiro.
“Da vez primeira
em que me assassinaram
Perdi um jeito
de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada
vez que me mataram,
Foram levando
qualquer coisa minha...
E hoje, dos meu
cadáveres, eu sou
O mais desnudo,
o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem
que me ficou!
Vinde! Corvos,
chacais, ladrões de estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de
arrancar-me a luz sagrada!
Aves da noite!
Asas do horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz de um
morto não se apaga nunca!”
- Mario Quintana