segunda-feira, 13 de julho de 2015

Quem sonha um sonho, conta um conto de si mesmo

Esperar é como escrever. Nunca tá bom, nunca é bom. O tempo adquire lógica própria e, no final, o que resta é impaciência. 21:36. Começo a pensar sobre sonhos. Justamente porque o sonho nos mostra uma realidade paralela. Será paralela mesmo? Nada, absolutamente nada, nos prova que estamos acordados e, nos sonhos, os eventos têm seu próprio ordenamento. Inclusive de tempo e espaço. Não é possível delimitar tempo e espaço nos sonhos. 21:39. Nem cor. Alguém sabe me dizer em que cor sonha? Eu, se sei, esqueci assim que acordei, junto a inúmeros sonhos.

Como escrever, sonhar pode ser constrangedor. Eu, especialista em generalidades, sou também expert em sonhos. Pelo que sei do que disse um cara aí, também metido a explicar tudo, Freud, o sonho é a representação dos nossos desejos mais íntimos, normalmente reprimidos pela moralidade social. O sonho é a essência do nosso inconsciente e apenas nós somos capazes de interpretá-los. Só de pensar nos meus textos e nos meus sonhos,  igualmente nas minhas interpretações dos mesmos, tenho vergonha. Afora a sensação de incompletude, seja escrevendo, seja sonhando, essa também me é velha conhecida. Principalmente quando acordo, aí tudo parece incompleto e a vida, por si só, perde a cor. Mas, exatamente como nos acontecimentos de um sonho, essa angústia passa.

21:42. E assim também passam as ideias. De repente pensei em escrever algo e já esqueci. E o tempo tá passando (esse não para de passar). Esperar, de repente, pode nem ser tão ruim. Em poucos minutos desse tempo cronológico, uma infinidade de ideias afloram. E, ao mesmo tempo, é como correr contra o próprio, o tempo. Afinal, é como se a caneta é que corresse de mim, ao não ser capaz de registrar ideias na mesma velocidade com que as penso.

Se bem que a própria linguagem permite uma brincadeira com o tempo quando-usamos-determinados-elementos-como-artifício-de-escrita. Já a (i)materialidade das palavras, essa parece ser a própria metáfora das ideias. E a contagem do tempo parou. Fato é que as ideias estão sempre em descompasso com a escrita. O mesmo descompasso entre o tempo dos sonhos e o tempo da narrativa que criamos dos sonhos. E, voilá, faz-se luz! As ideias estão para o sonho assim como a escrita está para a narrativa do sonho.


Quando contamos um sonho, nada mais fazemos do que ordenar cretinamente os acontecimentos que vivenciamos em uma dimensão paralela, para dar algum sentido ao que é inexplicável. Escrever é, portanto, a tentativa chula, disfarçada de nobre, de ordenar ideias e dar a elas algum sentido. Mesmo quando elas não fazem sentido algum nem para quem as pensa. E quando é que as palavras podem traduzir de maneira fidedigna um sonho, sem prejuízo de interpretação? E a contagem das horas, quando é que vai atribuir, de fato, algum sentido ao tempo? 00:41. Talvez eu já tenha passado da hora e esteja sonhando acordada um (des)ordenamento de ideias.

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