domingo, 23 de agosto de 2015

Dicionário histórico pré-capitali$ta

Trabalho – a punição de Adão. Origem na palavra tripalium, o nome de um instrumento de tortura. Acepção predominante até o capitali$mo (e não que isso tenha mudado inteiramente).

Vilões – o oposto da nobreza, na Idade Média; vil remetia aos trabalhos manuais, vistos como indignos. Idade Média também conhecida por Idade das Trevas. Tenho medo de imaginar como a nossa era será enxergada no futuro, caso não o destruamos.

Direito consuetudinário – predominante antes do capitali$mo, as leis eram orais. Curiosamente, “confiança” não precisava existir, enquanto conceito, uma vez que já existia enquanto prática.

Princípio da Reforma Protestante – imposição da tolerância. Irônico, no mínimo, já que “quem tem Cunha, tem medo”.

Usura – algo outrora condenado pela tradição clássica (antiguidade) e cristã. A usura era o lucro, algo considerado imoral, pois o dinheiro, até anteontem, na timeline da história, deveria ser utilizado apenas para coisas úteis. O lucro pelo lucro era exceção, no capitali$mo, se tornou a regra.

Pleonexia – termo também utilizado na tradição Clássica e na Cristã, assim como a crematística, significa cobiça, avareza. O desejo insaciável pela posse, posse do que não é primordial e, muitas vezes, do que não nos pertence. No capetali$mo, vale sempre retomar a máxima de que “quem tem mais do que precisa ter, quase sempre se convence que não tem o bastante” (Índios, Legião Urbana).

Consumo – deriva de com (intensivo) e sumere (pegar); consumo, em uma de suas leituras etimológicas, está ligado a desperdício. Nem precisa ser tão literal para saber que a sociedade do consumo é, por excelência, a sociedade do desperdício.

Droga/drogaria – expressão que derivou duas outras: alucinógenos e fármacos. Em poucos momentos na história da humanidade as “drogas” foram tão mal vistas como no capitali$mo, que mesmo assim não deixa de se apropriar de inúmeras substâncias, da forma como bem entende.

Negócio – negar o ócio. Expressão que ganha impulso, obviamente, no capitali$mo.

Ócio – do latim otium, que significa descanso.

Escola – scholé/skholé/schola – a noção, na Grécia Antiga, estava relacionada a cultivar o tempo da mente. Estendendo o significado, queria dizer, também, folga, lazer, tempo ocioso.

Aluno – sem luz.

Educação e Escola – os significados se misturam no latim e no grego. Suas prováveis origens estão relacionadas a saboroso.

Saborososapor + oris. Saber e razão.

* A educação deveria, através da escola, trazer à luz (razão); conduzir aquele que aprende da potência ao ato, segundo a filosofia aristotélica, de maneira “saborosa”. Em 2015, não sabemos o significado real de educação, nem seu valor; a escola e o atual sistema educacional são modelos falidos, assim como, em grande medida, também o é a família; não temos cultura de respeito e coletividade, tampouco consciência política e social, nossa única cultura “ideal” é a do trabalho e, por conseguinte, a do consumo. Mas ainda achamos que a educação é a solução para todos os problemas, como se ela fosse um super-herói que vai pousar na Terra, em um disco-voador igual ao da Xuxa, e aplicar seu “raio educacional” sobre todos nós.

Diria o barbudo, que “os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem”. Será, meu caro Karl, que não fazemos como queremos? A roda da história é insana, somos 7 bilhões que representam alguns poucos por centos dos seres vivos, e a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Acabaremos com a existência ou ela acabará com a gente?

** Como aspirante à historiadora, sei que não posso cometer anacronismos, ou seja, julgar o passado com meu olhar do presente. O texto é "meramente ilustrativo".



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