sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Simbora de Pasárgada


O farol muda as cores em padrão. O pedestre aperta o botão e altera a ordem do semáforo, pedindo passagem. Carros passam, carros param. A vida na cidade seria um espetáculo de luzes e sons, se essas luzes não fossem as que ordenam o tráfego e os sons os das buzinas ensurdecedoras. O olhar é fugidio, atento. O passo apressado. Vozes ecoam, passadas criam o ritmo, o cinza que obstrui as vias aéreas é o cinza que arranha o céu da babilônia paulistana.

Mas a vida pede passagem. E o botão que altera a percepção da vida cotidiana na metrópole é sútil. Um bom dia sorridente, um café quente, um novo olhar. Um olhar que capta o imperceptível, que percebe grandeza no que parece simples. O olhar vadio, que vaga, refletindo o seu redor. Os olhos de lince enxergam além do cinza da cidade e veem cores, veem vida.

A urbes cria sua cultura. Ritmo And Poesia compõem a trilha sonora do habitat de pedras, com rima e estilo. No meio do caminho do passeio público, os graffitis gritam e expressam ideias, em cores, timbres, tons e sons. O convite está feito para cada um que passa. A interação muda-ruidosa cria ordem no caos e a partir dele.

Queremos enxergar a vida em dicotomia. Ou o tráfego tá fluindo, ou tá parado. A metrópole é cinzenta, o campo é verde. A vida na cidade é estressante (e essa colocação, de tão auto afirmativa, nem precisa de seu par opositor). Dessa vez, com devida licença poética, a Pauliceia Desvairada é que pede passagem. Convida seu interlocutor a experienciar esse grande caleidoscópio, em que se traduz intensidade e multiplicidade.

São Paulo nasce de seus próprios paradoxos. Intrigou os modernistas, ganhou a alcunha da falta de amor, ainda que despertasse-alguma-coisa-no-coração-daqueles-que-cruzam-a-Ipiranga-e-a-Avenida-São-João. Convocou o sangue e o ouro de paulistas em 32. Sampa, ame-a ou deixe-a? A dialética pede passagem à dicotomia para compor sua síntese: transforme-a.


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