O
ser humano sempre temeu, mais que qualquer outra coisa, a si mesmo. Sempre
conheceu suas potencialidades e limitações, e buscou caminhos para enquadrar
seus comportamentos. A mitologia, as religiões, as lendas, sempre deram conta
de ensinar à humanidade os padrões comportamentais dominantes de cada época.
É
curioso. Curioso como tememos a nós mesmos pelo próprio conhecimento. A maior
potencialidade humana é o conhecimento, mas é também a maior limitação. Saber
demais e nunca saber o suficiente é o abismo da consciência humana. A
racionalidade compete com a subjetividade, levando a caminhos incertos. Vivemos
em função do fim, embora devêssemos potencializar os percursos.
Na
tentativa vã de compreender a nós mesmos, inventamos a religião, a ciência, o
mito e a arte. Esses elementos: se complementam mais do que se anulam,
construindo o todo em que nos encontramos. Como o conhecimento não se esgota,
estamos o tempo todo, aprendendo e ensinando.
Em
Gênesis, a árvore da ciência do bem e do mal nos é apresentada, cujo fruto é a
maçã. O fruto tido por proibido representa, desde os primórdios, um número
sem-fim de significados. O sexo, o conhecimento, o bem e o mal. A maçã é
protagonista em diversos momentos da história da humanidade. No século XVII, o
fruto proibido teria, mais uma vez, protagonizado um importante episódio
relacionado à ciência humana, a maçã de Isaac Newton deu origem à Física
Clássica.
No
Éden, ela não representou o nosso fracasso, representou nossa ousadia. Newton,
como todo grande cientista, foi considerado “fora do normal” em boa parte do
tempo. Tememos o conhecimento, principalmente quando confronta a nossa limitada
capacidade de compreensão da vida.
Mas,
parafraseando Ferreira Gullar, porque a vida não basta, a arte existe. E a arte
deixou de ser inacessível, porque ganhou as ruas. A arte das ruas que é,
também, a arte proibida sob muitos aspectos. Essa introdução é, em verdade, um
convite. Um convite aberto, de interação, percepção e transformação. Um convite
à ampliação da nossa concepção do mundo, a partir de algo tão comum a nós, as
ruas. Um convite ao eterno devir do conhecimento.
Um
convite do artista que estabelece esse paralelo necessário, mostrando a
semelhança entre o fruto e a arte. Como a maçã, o graffiti representa a
amplitude de ideias, a transformação, em uma constante interação que convida
seu interlocutor a participar, refletir e, por sua vez, também transformar.
O
graffiti transgride os moldes de uma arte contemporânea já tradicional, para
reinventar a forma de se fazer arte. A arte que é onipresente e democrática. Se
o fruto proibido, transgressor, representou, para a humanidade, a libertação
das amarras, a descoberta de si mesmo e do outro, a arte proibida atualiza
essas ideias, estabelecendo uma releitura desse símbolo.
Com apresentação desta que vos escreve, a exposição O Fruto Proibido, de Mauricio Glor, apresenta o conhecimento e a
subjetividade humanas, em grau mais profundo e enigmático, mas de maneira
ilustrativa e acessível, somente possível a partir de uma arte que nasce em
meio a todos, que nasce das ruas.
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