domingo, 16 de agosto de 2015

O Fruto Proibido

O ser humano sempre temeu, mais que qualquer outra coisa, a si mesmo. Sempre conheceu suas potencialidades e limitações, e buscou caminhos para enquadrar seus comportamentos. A mitologia, as religiões, as lendas, sempre deram conta de ensinar à humanidade os padrões comportamentais dominantes de cada época.

É curioso. Curioso como tememos a nós mesmos pelo próprio conhecimento. A maior potencialidade humana é o conhecimento, mas é também a maior limitação. Saber demais e nunca saber o suficiente é o abismo da consciência humana. A racionalidade compete com a subjetividade, levando a caminhos incertos. Vivemos em função do fim, embora devêssemos potencializar os percursos.

Na tentativa vã de compreender a nós mesmos, inventamos a religião, a ciência, o mito e a arte. Esses elementos: se complementam mais do que se anulam, construindo o todo em que nos encontramos. Como o conhecimento não se esgota, estamos o tempo todo, aprendendo e ensinando.

Em Gênesis, a árvore da ciência do bem e do mal nos é apresentada, cujo fruto é a maçã. O fruto tido por proibido representa, desde os primórdios, um número sem-fim de significados. O sexo, o conhecimento, o bem e o mal. A maçã é protagonista em diversos momentos da história da humanidade. No século XVII, o fruto proibido teria, mais uma vez, protagonizado um importante episódio relacionado à ciência humana, a maçã de Isaac Newton deu origem à Física Clássica.

No Éden, ela não representou o nosso fracasso, representou nossa ousadia. Newton, como todo grande cientista, foi considerado “fora do normal” em boa parte do tempo. Tememos o conhecimento, principalmente quando confronta a nossa limitada capacidade de compreensão da vida.

Mas, parafraseando Ferreira Gullar, porque a vida não basta, a arte existe. E a arte deixou de ser inacessível, porque ganhou as ruas. A arte das ruas que é, também, a arte proibida sob muitos aspectos. Essa introdução é, em verdade, um convite. Um convite aberto, de interação, percepção e transformação. Um convite à ampliação da nossa concepção do mundo, a partir de algo tão comum a nós, as ruas. Um convite ao eterno devir do conhecimento.

Um convite do artista que estabelece esse paralelo necessário, mostrando a semelhança entre o fruto e a arte. Como a maçã, o graffiti representa a amplitude de ideias, a transformação, em uma constante interação que convida seu interlocutor a participar, refletir e, por sua vez, também transformar.

O graffiti transgride os moldes de uma arte contemporânea já tradicional, para reinventar a forma de se fazer arte. A arte que é onipresente e democrática. Se o fruto proibido, transgressor, representou, para a humanidade, a libertação das amarras, a descoberta de si mesmo e do outro, a arte proibida atualiza essas ideias, estabelecendo uma releitura desse símbolo.

Com apresentação desta que vos escreve, a exposição O Fruto Proibido, de Mauricio Glor, apresenta o conhecimento e a subjetividade humanas, em grau mais profundo e enigmático, mas de maneira ilustrativa e acessível, somente possível a partir de uma arte que nasce em meio a todos, que nasce das ruas.


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