quinta-feira, 9 de julho de 2015

Um pouco de Sophia, muito de Capitu

“Tudo era matéria às curiosidades de Capitu” – foi o que me veio à cabeça quando pensei em um tema para esse texto. “Eu sou um tema vivo”, disse uma amiga quando eu pedi sugestões temáticas. Qual a ligação entre as duas citações, separadas em mais de 1 século no tempo? Bom, só para constar, devo dizer que sempre invejei Capitu e seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Mas o mais importante aqui é que, se tudo pode ser matéria às curiosidades d_s curios_s, então tudo pode ser um tema. E se todos os temas forem bem escritos, então podem igualmente despertar curiosidades.

Essa afirmação é tão óbvia quanto presunçosa. Óbvio é também o fato de que dificilmente se encontrará alguém apto a falar de todas as coisas e, afinal, there are more things in heaven and earth than are dreamt of in your philosophy* (o mesmo Hamlet citado pelo próprio Machado, em A Cartomante. Eu, claro, uns cento e tantos anos atrasada). Mas se não há pessoa apta a falar de todas as coisas quanto possível, certamente há alguém pretensios_ o suficiente para desempenhar tal tarefa. Provavelmente não um, mas inúmeros. Eis-me aqui.

Talvez se trate apenas de ser (ou não ser?), aquel_ que melhor vende uma ideia – ou várias. Vender porque convencer alguém a ler determinado texto também é uma questão de marketing (haters gonna hate). Trata-se do uso de uma linguagem sofisticada, muitas vezes, e sofisticação tem origem em sofisma. Na definição da minha vã filosofia, os sofistas, pré-socráticos, são muito mais bons oradores do que praticantes de uma “verdadeira” filosofia.

Pois bem, talvez o meu caro interlocutor esteja perante uma sofista, em relação às práticas filosófica e literária. Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus. Peço licença bíblica para postular o seguinte: no capitalismo, vive o homem de pão mais do que de palavras. O que nos leva realmente a crer que existe muito mais no céu e na terra, e entre eles, Cronos.

Escrever é isso. Filosofia é isso. Só percebemos que estamos no caminho certo, quanto mais dúvidas temos, porque, felizmente, um dia alguém postulou (se é que de fato postulou) que só sabemos que nada sabemos. E foi esse o motivo deste texto ser escolhido para a apresentação do blog. Porque sobra pretensão e falta sensatez. Sobram temas e faltam especialidades. Porque o caminho se constrói enquanto caminhamos. Assim sendo, todos os caminhos podem ser certos e o erro vira uma questão a ser debatida pelos ~relativos~. Será, então, que voltamos a Protágoras para dizer que o homem é a medida de todas as coisas? Não sei, é só o que consigo afirmar. 


*Tradução livre: Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia. Existem inúmeras traduções possíveis, escolhi a que acredito expressar melhor a ideia. Em A Cartomante, Machado utiliza há mais cousas no céu e na terra do que sonha nossa filosofia.

2 comentários:

  1. C'est si ne a pas une pipe, ou melhor, já diria Vargas, gosto mais de interpretações do que ficar explicando. Excelente ideia de resgatar conceitos encrostados nas raízes sociológicas e projeta-los ao viés de um olhar jovem e astuto.
    radieuse la vie, Allezy, allezy !

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