Meio
sem saber como e quando, comecei a me interessar muito por crônicas. Passei a
lê-las aos montes e, de tão saborosas, me peguei querendo arriscar umas breves
linhas. O problema se deu justamente quando quis parar e escrever. “É crise do
processo criativo”, me disse um sujeito muito mais ousado e aventureiro do que
eu, sobretudo no quesito escrita. “E só se resolve escrevendo”. Assim até
parece simples.
Um
segundo problema. Sempre ouvi dizerem que a inspiração pode vir fortuitamente. Certa
vez, em uma entrevista, Criolo a definiu da seguinte forma: “as vezes ela vem
num belo vestido, as vezes ela vem espancada, as vezes ela vem com uma faca pra
te cortar, mas ela sempre vem”. Ok, então ela sempre vem. Mas ainda havia um
terceiro problema.
A
questão é que nem sempre se tem um aparato digital, facilitador, à mão. E com
bateria, esse detalhe é importantíssimo. É claro que, qualquer um que goste de
escrever, dificilmente sai à rua sem um caderninho na mochila. Isso também é
regra para quem é tiete. Todo mundo que cogita a possibilidade de encontrar
alguém famos_ na rua, tem sempre um papel e uma caneta para um autógrafo. Sim,
isso é um desabafo. Eu não poderia saber disso tão bem se não fosse uma tiete
confessa, so sorry. O que reforça a necessidade que eu, pessoalmente, tenho de
sempre estar de posse de um caderninho.
Ocorre
que escrever é um processo lento. Vêm à mente um conjunto sem-fim de ideias e,
no entanto, existe uma limitação física para transcrevê-las. Para mim, o
principal fator limitador é, muitas vezes, a preguiça. So, so sorry. Mas,
pensando bem, nem me sinto tão mal por isso. Antes de mim (claro, qual o
sentido de pensar algo antes de qualquer outra pessoa?), Machado escrevera em
um folhetim, a prévia da crônica, justamente um desabafo dizendo que o grande
fardo do folhetinista era o dia de escrever. Hoje, mais de 100 anos depois,
sabemos quem Machado é e, para muitos, ele foi o próprio precursor da crônica.
Tudo
bem, ele é Machado de Assis. Eu... Quem sou eu, mesmo? E, apesar de Antonio
Candido nos dar a “fórmula da crônica”, devo dizer que, de fato, isso é pra
poucos. E desde já peço desculpas, não mais somente ao meu caro leitor, como também aos grandes cronistas, pela vã pretensão de cronicizar o ato de escrever e,
sobretudo, pela própria ambição de escrever crônicas. Escrever é uma benção e
um estigma. E por falar em benção e estigma, nem aquele brother cabeludo,
barbudo, metido à paz e amor, vulgo JC, agradou a tod_s, se eu não to enganada.
A
mim, nada resta. Nem engavetar esse texto, uma vez que a escrita perdeu quase
completamente o requinte de ver seus papéis acabarem corroídos por traças em
uma velha gaveta. Neste caso, talvez reste um arquivo em word, salvo em uma
“nova pasta” de uma área de trabalho cheia de coisas esquecidas, inclusive
crônicas.
Crônica
que, humildemente, se coloca como um gênero descartável, breve, sempre
escondendo (ou fingindo esconder) sua real profundidade. Será uma falsa
modéstia? Eu, ao pensar escrever crônicas, certamente não sou falsa e,
definitivamente, nem um pouco modesta. Desisto. Escrever algo breve, engraçado,
simples, mas profundo, com um turbilhão de pensamentos paralelos a respeito e a
mão há muito já não acompanhando... ~suspiro~. Melhor seria descer do patamar
da crônica e voltar ao rés do chão.
*Referência ao texto de Antonio Candido, A vida ao rés do chão, que estabelece uma análise crítica do gênero crônica. O texto não é facilmente encontrado online, mas posso disponibilizá-lo aos interessados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário