Thoreau
certa vez escreveu:
“Fui
à floresta porque queria viver deliberadamente, encarar apenas os fatos
essenciais da vida, e ver se eu poderia aprender o que ela tinha a ensinar, e
não, quando eu vier a morrer, descobrir que nunca vivi. Eu não desejei viver o
que não era vida, estar vivendo me é tão caro; nem desejei praticar a
resignação, a menos que fosse necessário. Eu queria viver profundamente e sugar
toda a essência da vida, viver tão robustamente tal qual um espartano e jogar
fora tudo o que não era vida (…)”.
Um
amigo me enviou isso porque lembrara do último texto que eu escrevi. Gratidão.
Se
não dissessem que era Thoreau quem escreveu, eu quase poderia dizer que tinha
sido eu. Inclusive pela circunstância. Mas não quero soar pretensiosa.
Minha
última viagem teve um pouco desse intuito. Queria viver, deliberar, encarar a
essência. Queria, mais do que nunca, ter a certeza de que estou vivendo, não
apenas existindo. Viver também me é caro.
É
caro e doloroso.
Doloroso
quando conhecidos simplesmente se tornam desconhecidos. Doloroso quando se descobre
que reciprocidade é exceção, não regra. Doloroso perceber que essa (anti) regra
também se aplique à amizade. Doloroso quando, ao tentar acertar, você descobre
que também erra. E também machuca. Doloroso que tudo o que resta sejam
incertezas, mesmo sabendo que, na vida, a única certeza que temos é a morte. Dolorosa
a morte, mais dolorosa ainda a vida.
Viver
é um desafio lindo e traiçoeiro. Assim como Thoreau, meu maior medo é descobrir
que nunca vivi. Ou pior, que vivi restrita as minhas convicções. Thoreau morreu
aos 44 anos. Talvez tenha valido mais viver 44 anos em essência, do que valeria
viver 80, em aparência.
É
preciso ir para o meio do nada, próximo à vida “selvagem”, para se perceber o quão
bichos nós somos, em verdade, na selva de pedras. Uma ovelha desgarrada pode
descobrir muita vida fora do rebanho.
Isso
soa um tanto niilista, um tanto pessimista. Talvez soe apenas melancólico.
Talvez pudesse ser um pouco de Beckett, cujas personagens, de certa forma,
encontram o otimismo justamente na inerência de esperar. Em outras palavras, o
que tem sentido é a permanência, essa temporalidade infernal cuja ação é
passiva, cuja resistência é a desistência, cuja existência é a única
alternativa. Por isso, continuemos.
Continuemos
na incapacidade de ação, continuemos através da razão inercial. Continuemos porque,
ao contrário de Getúlio, não podemos sair da vida, para entrar pra história. Eu
continuo. E continuo querendo sugar todo ensinamento que a vida possa dar, à la
Thoreau. Sem mania de grandeza, à la Beckett. Sabendo que, ao final, eu possa
descobrir que me enganei. Ao menos terei a certeza de ter feito alguma coisa
muito bem, exatamente essa: Ter me enganado. À la Rayssa.
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